sábado, 15 de dezembro de 2012

O menino da árvore

O mundo caminhava para seu fim (ao menos era o que acreditava a maioria); mas o menino sobre o qual devo falar estava sentado em uma árvore. Seus pés descalços estavam sujos e um pouco machucados por conta da escalada dos galhos, suas mãos seguravam um livro (de capa tão vermelha quanto o sangue) e seus olhos percorriam avidamente as letras impressas no papel quase branco. Seria muito pouco dizer que sua mente vagava pela fantasia, ou que seu coração batia junto ao dos personagens. Porque ler era muito mais que isso.

Como já mencionei, o mundo estava acabando. A cada dia, milhares de pessoas morriam atingidas por tiros, facadas ou palavras (que se você parar para pensar acabam sendo a mesma coisa). Era uma guerra onde só gritavam aqueles que não sentiam dor e quem se calava só teria a afirmar a desesperança. Mas não caia no erro de acreditar que aquele menino vivia na guerra: esse mundo estava logo abaixo dele.

E por isso ele lia. Nos livros havia as palavras que faltavam nas pessoas. Não só as palavras, mas os sonhos (ou o poder de acreditar neles). O menino lia, sonhava e pensava – seu mundo era cheio de vida. Às vezes, olhava para cima e ousava imaginar o que haveria em outros mundos. A cada vez que fazia isso, um universo se formava em sua alma. Seria mentira dizer que o mundo em apocalipse quase silencioso não o afetava – afinal, essa gente adora cortar árvores -, mas ele se mantinha ali, porque aquela árvore era tão forte quanto seu coração. Ele se preocupava com aquele mundo (até porque já vivera ali), mas sempre voltava para seu mundo de livros, onde tudo era melhor.

Apesar disso, ele não ficou ali para sempre. Um dia ele desceu da árvore. Eu seria muito idiota se dissesse que ele virou um adulto, porque ele só foi buscar uma caneta e um caderno. E com aqueles instrumentos, realizou grandes obras. Ele não conseguiu acabar com a guerra, mas fez algo tão importante quanto isso: deu um novo mundo a quem precisava de felicidade.

É, ele escreveu.

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